Batuque: História e Teologia Afro-Gaúcha dos Orixás
Pesquisa do historiador e babalorixá Hendrix Silveira apresenta os fundamentos de uma religião negra fundada no extremo sul do país e levanta bandeira antiracista.
Em todo o Brasil, comumente ouve-se falar das tradições Umbanda e Candomblé, levando a crer que sejam as únicas religiões dos Orixás existentes no país. Ledo engano: tendo recebido mais de 2.000.000 de negros escravizados durante os quase quatro séculos de processo escravagista, o Brasil é berço de dezenas de vertentes religiosas e adaptações regionais dos cultos ancestrais trazidos desde a África.
De todas elas, o Batuque - fundado em meados do século XIX no extremo sul do Brasil - é, talvez, a menos conhecida. Curiosamente, o Batuque é, certamente, a mais conhecida nos países da América do Sul, tendo se expandido de forma significativa pelo Uruguai e Argentina durante o século XX. Buscar compreender sua epistemologia e resgatar a história desta tradição religiosa ressignificada em terras gaúchas foi o ponto de partida para Não Somos Filhos sem Pais, dissertação de mestrado de Hendrix Silveira, o primeiro babalorixá do Brasil a titular-se mestre e doutor em teologia.
Foi ainda neste processo que o historiador e sacerdote desenvolveu os conceitos de cristianocentrismo, exunêutica e afroteologia. Sabendo do interesse que o assunto gera para além do meio acadêmico, a convite do também babalorixá e editor da Arole Cultural, Diego de Oxóssi, o teólogo e historiador decidiu adaptar sua tese para livro e compartilhar a sua busca pela compreensão de como o Batuque sofreu a sua destituição epistemológica, atribuindo sentidos e propósitos aos rituais dessa tradição a partir de uma reflexão teológica fundamentada numa epistemologia interdisciplinarizada afrocentrada e pós-colonializada.
Com prefácio assinado pelo Prof. Dr. e também babalorixá Sidnei Nogueira, autor de "Intolerância Religiosa", Não Somos Filhos sem Pais tem por objetivo auxiliar tanto pesquisadores do tema quanto profissionais na área de educação, sobretudo no campo da Teologia, das Ciências da Religião e do Ensino Religioso, propondo-se, ainda, a ser ferramenta na luta antiracista ao municiar os vivenciadores do Batuque com sua história e cultura, que, devido à perseguição histórica, acabaram por ter seus saberes ancestrais destituídos com o epistemicídio engendrado pelo colonialismo do “homem branco”.
A publicação é o quarto título acadêmico publicado pela Editora e o primeiro a tratar especificamente de uma tradição regional, focalizando o objeto de estudos à comunidade negra e afro-religiosa do Rio Grande do Sul e, a partir daí, amplificando suas vozes e costumes para todo o país. Nesse mesmo sentido, a continuação das pesquisas de Hendrix Silveira, com a tese de doutorado "Afroteologia: construindo uma teologia das tradições de matriz africana", já tem lugar cativo no prelo 2022 da editora.
Não Somos Filhos Sem Pais
História e Teologia do Batuque do Rio Grande do Sul
192 páginas
ISBN 9786586174069
Preço de capa: R$ 49,40
Disponível em www.arolecultural.com.br/shop/nao-somos-filhos-sem-pais e nas melhores livrarias do país.
Sobre o Autor
Hendrix Silveira é o primeiro bàbálórìṣà do Brasil doutor em Teologia. Nasceu numa família de afro-religiosos (sua avó era Mãe Marute de Oxum, conhecida Ìyálórìṣà da Vila São José, em Porto Alegre). Foi iniciado por sua avó na Umbanda em 1994, recebendo o cacicado em 2001. Em 2000 realizou Borí pelo Batuque, nação Ijexá sob a égide de Pai Pedro de Oxum Docô, Bàbálórìṣà renomado internacionalmente, e em 2002 assentou seus Òrìṣà. Em 2008 fundou, juntamente com sua esposa, Ìyá Patrícia de Ọya, a Comunidade Tradicional de Matriz Africana Ilé Àṣẹ Òrìṣà Wúre, na Vila João Pessoa em Porto Alegre/RS. Atua como professor de História, Ciências da Religião e Teologia nas redes pública e privada de Educação, nos três níveis (Fundamental, Médio e Superior). Doutor em Teologia pelas Faculdades EST, também assessora o Conselho do Povo de Terreiro do Estado do Rio Grande do Sul, conselho de direitos vinculado ao Governo do Estado. Integra o grupo de pesquisa: Identidade Étnica e Interculturalidade das Faculdades EST.