Carlinhos Brown: o som dos Orixás, da Bahia para o mundo
Quem nunca ouviu os ritmos dos tambores misturados à melódica da voz potente de Carlinho Brown não sabe o que é sentir o coração bater de verdade... Nascido em 1962 no bairro do Candeal Pequeno, em Salvador / Bahia, Antônio Carlos Santos de Freitas logo se tornaria Carlinhos Brown.
“A lembrança mais forte que eu tenho foi a de gerar a confiança na minha família. Lá para os 15 anos, em meados dos anos 70, eu fui contratado por uma cantora, Leila, para trabalhar com ela em barzinhos tocando percussão no bairro do Rio Vermelho, em Salvador. Quando cheguei lá, tinham outros cantores fazendo também shows na noite do bairro e que passaram a me chamar para tocar percussão com eles. Foi assim que comecei a minha carreira como percussionista. Eu ganhava sempre o transporte e os cachês dos shows eu receberia no final do mês. Lembro como se fosse hoje do dia que eu cheguei em casa com uns cinco salários mínimos. Meu pai não estava fazendo nem 1 por mês! Rapaz, ele disse “Não, não! Onde você achou este dinheiro?”. Só sei que ele me pegou pela orelha e me levou para onde eu tinha achado este dinheiro. Aí Zé Rubens, que era o líder dos barzinhos, contou que eu toquei o mês inteiro, que eu tinha muito talento na percussão e que era muito querido por todo mundo. “Mas eu não quero ele envolvido com bebida”, dizia meu pai. Zé Rubens explicou que eu não bebia. Ele passou a acreditar e me deixar tocar como percussionista. O problema é que era um cachê sazonal, somente durante o verão. Terminou o carnaval e ficou um marasmo. Não tinha nada o que fazer! E meu pai foi logo me dizendo: “Quem vive de música é radiola. Vai trabalhar em outra coisa!” .
Logo no início da década de 80, Carlinhos Brown se tornou um dos instrumentistas mais requisitados da Bahia, tocando ao lado de Bebo Valdes e Mestre Pintado do Bongô.
Em 1984 Brown participa da banda Acordes Verdes, liderada por Luiz Caldas. No ano seguinte, Luiz Caldas gravou “Visão de Cíclope”, composição de Carlinhos Brown, e foi um dos sucessos mais tocados nas estações de rádio de Salvador. Também em 1985 o músico recebe o Troféu Caymmi por ter 26 músicas tocadas nas rádios de Salvador, entre as canções estão Remexer, O Coco e É Difícil.
No final da década de 80 se destaca também como percussionista de grandes nomes da Música Popular Brasileira. Carlinhos Brown participou de turnês mundiais com João Gilberto, Djavan e João Bosco, além de integrar a banda de Caetano Veloso e emplacar o sucesso "Meia Lua Inteira", trilha sonosa de "Tieta".
Em 1991 Brown reinventa a sonoridade do timbau ao reunir percussionistas e fundar a Timbalada. Logo em seguida, o CD “Timbalada” é eleito Melhor CD da América Latina pela Revista Billboard.
No início da década de 90, grava também o disco “Bahia Black – Ritual Beating System” com vários artistas com produção de Bill Laswell, trabalho que lança Brown como cantor.
A música anda junto com os projetos sociais e, em 1994, funda a Associação Pracatum Ação Social. O projeto, criado por Brown, oferece cursos de idiomas, moda, reciclagem, oficinas de dança, escola infantil. É nesta mesma época que o artista lança o primeiro álbum solo: “Alfagamabetizado”.
Em 2002, além de a Associação Pracatum Ação Social ganhar o Prêmio Unesco na Categoria Juventude; Brown recebe o Certificado de Melhores Práticas do Programa de Assentamentos Humanos das Nações Unidas pelo projeto “Tá Rebocado”, que visa melhorar as condições de vida no Candeal, seu bairro de nascença em Salvador.
O artista iniciou os anos 2000 sendo indicado ao Grammy Latino de Melhor Canção Brasileira com “Amor I Love You”.
Junto com os amigos e parceiros Marisa Monte e Arnaldo Antunes, cria em 2002 os Tribalistas. Lançado em CD e DVD, o trabalho coletivo conquistou prêmios pelo mundo e alcançou a marca de mais de 1 milhão de discos vendidos.
Brown mistura baianidade com ritmos latinos, com influências caribenhas e referências à herança da América Espanhola, além de - é claro - uma forte influência da cultura e dos cânticos africanos do Candomblé em louvor aos Orixás, religião na qual é iniciado.
O reconhecimento do trabalho de Carlinhos Brown também pode ser mensurado pela realização, em 2004, do filme El Milagro de Candeal, do cineasta espanhol Fernando Trueba. O filme retrata a comunidade do Candeal através dos olhos do músico cubano Bebo Valdés, em sua primeira visita à Bahia aos 83 anos e seu encontro musical com Brown.
O sucesso na Espanha viria logo em seguida. Realizou, na Espanha, quarenta espetáculos, entre os meses de maio e julho de 2005.
Em 2007 parte para uma grande conquista. O artista arrenda o antigo Mercado do Ouro, no bairro do Comércio, em Salvador, e inaugura o Museu du Ritmo, que serve de palco de diversos projetos e espetáculos da cidade, incluindo os ensaios da Timbalada, o Sarau du Brown e Enxaguada du Bonfim.
Sempre ligado ao social, o músico baiano recebe o prêmio do canal espanhol, Telecinco, “12 meses, 12 causas” pelo engajamento com as questões sociais.
Em 2010 Carlinhos Brown lança o single Earth Mother Water, um apelo pela preservação do planeta, que responde aos maus tratos com mudanças climáticas.
Incansável, em 2012 Brown integra a banca de jurados do “The Voice Brasil”. A participante do seu time, Ellen Oléria vence a primeira edição do programa. O artista baiano permaneceu nas demais edições: 2013, 2014 e 2015.
Em 2014, o artista lança os dois discos Marabô e VIBRAAASIL Beat Celebration. Em 2015, Sarau du Brown. Em 2016, lança seu 15o álbum: ARTEFIREACCUA – Incinerando o Inferno, e em 2017 seu álbum mais recente, Semelhantes. Além da intensa produção artística, nos últimos anos Carlinhos Brown também é jurado do programa The Voice Brasil, transmitido pela TV Globo.
Nota pessoal: no carnaval de 2016, eu tive o prazer de assistir à apresentação de Carlinhos Brown durante o Baile da Vogue, em São Paulo e preciso confessar: ele tem uma energia de arrepiar e sua presença de palco aliada ao talento na percussão fazem o corpo e a alma tremerem de alegria!